7 de jun. de 2009

"Pelo amor de Deus, conta uma novidade"

reprodução Folha de S.Paulo

É verdade, "todo mundo já sabia". Sensacional o título da coluna do ombudsman Carlos Eduardo Lins da Silva na Folha de S.Paulo deste domingo. O texto aborda um assunto pra lá de incômodo: a validade das manchetes dos jornais de papel em casos como o da cobertura do acidente com o avião da Air France (voo 447). Semana passada, este blog comparou as coberturas e concluiu que a web dá a manchete aos jornais.

O que chamou atenção desta jornalista foi o fato de os leitores reclamarem da manchete. Em fevereiro de 2008, apontei fiz a mesma queixa sobre a cobertura da renúncia de Fidel Castro em um curso a jornalistas de um grande portal paulistano. A Folha amanheceu com o título: "Fidel renuncia após 49 anos".

Tratava-se da mesma manchete que estampava os portais desde a madrugada de terça, 19, um dia antes de o jornal ir às bancas. A resposta que recebi de um colega que passou pela redação da Barão de Limeira foi surpreendente: "há uma pesquisa interna que mostra que os leitores querem esse tipo de manchete". Obviamente, não me conformei, mas tentei compreender, e a pulga ficou atrás da orelha até hoje.

Ainda bem que os leitores mudaram, e a prova é o que escreveu Carlos Eduardo: "Vários outros leitores manifestaram frustração com a decisão editorial de tornar o jornal caudatário das informações divulgadas pela TV, pelo rádio e pela internet no dia anterior, na terça e na quarta-feira. Estou com eles."

Ricardo Noblat já havia cantado essa bola em 2005, em entrevista à Playboy, ao afirmar o seguinte: As pessoas estão se informando de outro jeito. Você abre amanhã a Folha de S.Paulo e está lá a manchete: 'Empresário diz que pagou mensalinho a Severino' [A manchete da Folha no dia seguinte à entrevista de fato foi "Empresário confirma propina e agrava situação de Severino"]. Pelo amor de Deus, me conta uma novidade, isso o país inteiro já sabe.

Para quem não leu a coluna do Carlos Eduardo, faço questão de reproduzir aqui:

Todo mundo já sabia

(assinantes)


Leitores manifestam frustração com a decisão de tornar o jornal caudatário das informações já divulgadas na TV e na internet


"A MANCHETE seria boa em 1921 [ano de fundação da Folha] quando não havia TV e internet. Hoje, parece mais um jornal de ontem. Todo mundo já sabia." Foi o que o leitor José Antonio Pessoa de Mello Oliveira escreveu ao ombudsman na terça sobre a capa do dia, quase toda dedicada ao acidente com o Airbus da Air France.


Mello Oliveira concluiu: "O autor da manchete precisa ter em mente que não é possível recriar o impacto de uma notícia já divulgada. A manchete deve explorar um desdobramento da informação inicial. É um ônus que o jornal de papel tem que aceitar".


No mesmo dia, a leitora Patrícia Sperandio perguntava "como é possível um jornal amanhecer nas bancas com uma manchete tão envelhecida?" e especulava: "A manchete principal da Folha de hoje explica por que o jornal impresso está, cada vez mais, perdendo espaço para outras mídias".


Diogo Ruic aconselhou: "Sugiro que manchetes, principalmente da capa, tragam algo novo para quem busca informação. O jornal não precisa tratar tudo como velho, mas há de se ponderar o que realmente é novidade. Ou alguém duvida que 99% dos assinantes do jornal já sabiam da queda do avião?"


Vários outros leitores manifestaram frustração com a decisão editorial de tornar o jornal caudatário das informações divulgadas pela TV, pelo rádio e pela internet no dia anterior, na terça e na quarta-feira. Estou com eles.


O que deveria ter sido feito? Admito que é difícil. Mas é preciso ter a coragem de errar para mudar e para dar a entender ao público que se está disposto a mudar. Qualquer coisa que sinalizasse ao leitor que este jornal respeita sua inteligência e não vai repetir o que ele já sabe seria melhor.


Outro aspecto da cobertura da tragédia que mobilizou leitores foi o noticiário em torno das vítimas, especialmente a utilização de fotos de algumas delas que foram retiradas de suas páginas em redes de relacionamento da internet.


Pessoalmente, sempre me incomodou muito o assédio de jornalistas a parentes de vítimas de acidentes. Mas é inegável ser dever do jornalismo registrar a história de vítimas de acidentes que se tornam públicos e que se isso for feito de maneira respeitosa pode servir de homenagem a elas e de preservação de sua memória. E quando alguém coloca suas fotografias no Orkut e em similares, sabe que elas estão ao acesso de qualquer pessoa.


meu comentário: obrigada, Carlos Eduardo.


A pensar,


LM

Um comentário:

Unknown disse...

Luciana, sou repórter da revista Trivela, e estou fazendo uma matéria sobre Twitter, especialmente na nossa área - futebol. Crescimento de perfis de treinadores, jogadores, mídias esportivas, etc. Vi sua referência no blog do Mauricio Stycer, e gostaria de saber se poderíamos conversar um pouco sobre isso. Aguardo contato! Meu email é mayra@trivela.com. Abraços, Mayra