11 de dez. de 2008

Além das árvores mortas

Em uma palestra à rádio australiana ABC, em novembro passado, Rupert Murdoch, dono da News Corporation, um dos maiores conglomerados de mídia do mundo, saiu em defesa da informação e não do suporte. Para Murdoch, não importa que dispositivo seja usado, mas a qualidade do conteúdo oferecido ao leitor, que para o empresário, quer uma fonte na qual possa confiar. "Nosso negócio não é imprimir sobre árvores mortas, mas oferecer jornalismo de qualidade".

Da íntegra do texto publicada pela Folha de S.Paulo, há pontos importantes destacados (a seguir) que dão conta de apontar caminhos possíveis ao jornalismo para "além das árvores".

"Antigamente um punhado de editores podia decidir o que era notícia e o que não era. Eles agiam como uma espécie de semideuses. Se eles publicassem uma história, ela virava notícia.Se ignorassem o fato, era como se nunca tivesse acontecido. Hoje os editores estão perdendo esse poder. A internet dá acesso a milhares de novas fontes que cobrem coisas que um editor poderia deixar passar. Se você não se satisfaz com isso, pode começar seu próprio blog, cobrindo e comentando as notícias você mesmo."

(...)

"Um estudo americano recente constatou que muitos editores e repórteres simplesmente não confiam que seus leitores tomem boas decisões. É uma maneira educada de dizer que esses editores e repórteres acham os leitores estúpidos demais para pensar com suas próprias cabeças.

Ao enxergar seu público como garantido e permitir que eles mesmos se tornem tão institucionalizados quanto qualquer governo ou empresa sobre a qual escrevem, esses jornalistas estão pondo em risco seus próprios jornais. É simplesmente extraordinário que tantos que têm o privilégio de sentar na primeira fileira e escrever o primeiro relato da história possam ser tão imunes a seu significado evidente -sem falar nas conseqüências disso para sua própria indústria."

(...)

"A tendência digital definidora no conteúdo é a crescente sofisticação das buscas. Já é possível customizar o fluxo de notícias por país, empresa ou assunto. Dentro de uma década, as coisas serão ainda mais sofisticadas. Você poderá satisfazer seus interesses singulares e buscar conteúdos singulares.

Afinal, uma estudante universitária da Malásia não terá os mesmos interesses que um executivo de 60 anos de Manhattan. Pensando em algo mais próximo, seu filho adolescente não terá os mesmos interesses que sua mãe. O desafio consiste em usar a marca de um jornal e, ao mesmo tempo, permitir que os leitores personalizem o noticiário, eles próprios -e lhes enviar as notícias das maneiras que eles quiserem.

É isso o que estamos procurando fazer agora com o "Wall Street Journal". O jornal tem a vantagem de ter uma base de leitores muito fiel, de ser uma marca conhecida por sua qualidade e contar com editores que levam a sério os leitores e seus interesses.

Isso ajuda a explicar porque o jornal continua a desafiar as tendências da indústria. Dos dez maiores jornais nos Estados Unidos, o "WSJ" é o único a ter tido um aumento de assinaturas pagas no ano passado.

Ao mesmo tempo, pretendemos deixar nossa marca impressa na fronteira digital. O "WSJ" já é o único jornal americano a ganhar dinheiro de fato on-line. Uma razão disso é a demanda global crescente por notícias econômicas e por notícias precisas. A integridade não é apenas uma característica de nossa empresa, é um elemento de vendas.

Uma maneira pela qual planejamos aproveitar as oportunidades on-line é oferecendo três níveis de conteúdo. O primeiro será formado pelas notícias que colocamos on-line gratuitamente. O segundo será disponível aos leitores que assinam o wsj.com. E o terceiro será um serviço premium, criado para dotar os clientes da capacidade de customizar notícias e análises financeiras de primeira linha de todo o mundo.

Em tudo o que fazemos, vamos transmiti-lo das maneiras que mais correspondem às preferências dos leitores: em sites que eles podem acessar em casa ou no trabalho em invenções ainda em evolução, como o Kindle da Amazon (artefato para leitura wireless), e também em celulares e blackberries. No fim, ficamos onde começamos: o vínculo de confiança entre os leitores e seu jornal."

Íntegra (assinantes)

meu comentário: a análise de Murdoch faz todo sentido se pensarmos espeficamente que os jornais de papel não irão desaparecer, mas terão suas funções reconfiguradas. Quando afirma que a distribuição da informação se dará por meio de diversos dispositivos (inclusive os que serão criados daqui a algum tempo) e o leitor não é estúpido como imaginam alguns editores, o publisher mostra que está no caminho certo.

Sobretudo se ampliarmos a idéia de que o jornalista se institucionaliza ao impor conteúdo que "acha" ser interessante para o design informacional, como usar a ergonomia para provar que o "clique aqui" funciona em vez de planejar uma navegação intuitiva que não trate o leitor como estúpido.

Sobre as estratégias de oferta de conteúdo do "WSJ", o UOL já oferece esses níveis há bastante tempo (conteúdo grátis + premium). A customização que ainda é um nó, e será resolvida em breve.

A pensar,

LM

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