28 de jul. de 2009

Não dá mais para ignorar a internet

Tem razão Ben Self quando diz que “é difícil ganhar uma eleição twittando”. Self é um dos responsáveis pela estratégia da campanha de internet do presidente dos EUA, Barack Obama.

Em entrevista a O Estado de S.Paulo na segunda-feira, 27, o americano alertou políticos que pretendem embarcar na Obamania e elaborar projetos idênticos aos da campanha milionária vencedora do Cannes Lions 2009 a antes perceber o potencial de articulação na rede.

“Uma das sacadas da Blue State Digital foi pulverizar as doações por várias páginas de relacionamento na internet, que tinham em comum o apoio à campanha de Obama. As pessoas entravam na rede, doavam, articulavam eventos pró-campanha e ainda participavam de grupos de discussão sobre arrecadação. Milhões de dólares foram doados em questão de dias.”

Com essa ação, a empresa entendeu que as pessoas “adoram fazer esse tipo de conexão, mesmo que elas não se conheçam. E elas voltam para doar 3, 4, 5 dólares”.

Para isso, é preciso de um time de peso, e não é sem razão que Obama foi atrás de gente como Chris Hughes, fundador do Facebook, criou o cargo de Diretor de Novas Digitais, cujo comando está nas mãos de Macon Phillips, e mudou a visão de participação política na web e lançou uma nova forma de financiar campanhas.

Isso significa incluir na pauta do dia a internet como peça-chave dos projetos de comunicação política – não só em época de eleição, mas no dia-a-dia.

Obviamente que o investimento no espaço digital não foi definitivo para a vitória de Obama, mas, sem dúvida alguma, teve importância significativa. Sobretudo, porque a turma da Blue State inovou, ou melhor, concluiu que só faz sentido trabalhar na rede se puder conectar pessoas em torno de algo, mesmo que elas não se conheçam.

Dinamismo

A campanha presidencial de Obama ensinou que existe uma grande vantagem em ter um relacionamento dinâmico e uma estratégia online, mesmo em países onde a internet é menos acessível, como o Brasil. “É claro que a penetração em algum nível é necessária. É um investimento de tempo.”

É necessário compreender que trata-se de uma ferramenta indispensável para falar com eleitores e também motivá-los. Não basta usar a rede da moda, desordenadamente, correndo atrás de um rebanho que não se sabe aonde vai dar.

Para o dono da Blue State, há todo um conjunto de ações, como “criar um website dinâmico, que mobilize os eleitores e permita que eles façam parte da campanha. E tem de ter um mailling poderoso, que contenha milhares, milhões de pessoas nele. É provavelmente a peça mais importante de qualquer campanha online. É mais importante, de certa forma, que um bom website.”

Twitter

Sobre as redes sociais, Self avisa que é preciso elaborar uma estratégia. Há um papel em cada uma delas, mas não são mais importantes que o site, o e-mail.

É uma ferramenta, mas é muito difícil ganhar a eleição twittando. É preciso motivar as pessoas, isso ajuda a ganhar eleição. Isso significa falar com os eleitores, amigos, doar dinheiro. Se você tem um website que fala de você e no qual os seus apoiadores opinam, mas que não motiva seus eleitores para nenhuma ação, você não vai a lugar nenhum.”

Portanto, de nada adianta estrategistas brasileiros copiarem literalmente o projeto da Blue State sem que haja um estudo aprofundado do que pode ou não ser feito por aqui. Não se pode esquecer que ainda que o Brasil seja campeão no uso de internet (em horas), as questões de alteridade são fundamentais para obter um resultado positivo.

Ou seja, cada vez mais, o trabalho imaterial e o capital humano farão a diferença nas campanhas de 2010. Isso significa que não há mais tempo a perder com o marketing off-line praticado pelos "curandeiros de internet", pois na rede ele se dissolve rapidamente.

A pensar,

LM

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